Falar sobre amor, de amor, ou com o amor… O amor é complexo e pode tomar muitas formas. Quel Amour!? chega a Portugal vinda de Marselha pelo curador Éric Corne e promete dar aos espectadores um mundo de definições e razões para amar.

Para esta exposição, Éric Corne, escolhe uma série de obras que não respeitam gerações, geografia ou estilo, apenas uma lógica: o amor. O objetivo é o de criar uma alquimia viva e misteriosa através da sua coexistência e coincidência, entre a pertinência e impertinência.
“[a exposição] Procura traçar possibilidades. Como tal, o olhar do visitante oscilará entre o ponto de exclamação e de interrogação.” (Éric Corne)
Explica-nos o curador que a escolha internacional dos artistas se prende também com a transversalidade do amor. Este é um sentimento universal que não olha a fronteiras e a sua evocação manifesta-se em todas as culturas, civilizações, pessoas e sítios. Já a sua perceção é outra conversa.
Cada cultura, cada país e cada indivíduo vê e identifica o amor das formas mais diferenciadas – amor romântico, amor materno e paterno, amor à pátria, amor proibido, enfim. Amor é amor e isso não negamos e nesta exposição é amor que reconhecemos a cada canto.
Mas desengane-se quem achar que tudo é amor e uma cabana, amor tem muitas facetas, e o curador tem alguns truques na manga. Começando pela entrada, uma escolha que vai afetar o desenrolar do tema da exposição – no fundo vamos todos ver o mesmo, mas de uma forma diferente. São dois pontos de vista diferentes, nos dois começamos por conhecer as esculturas de Kiki Smith – um corpo por fim libertado da prisão que o atormentava. Começa assim a viagem. “Duas entradas, que os visitantes escolhem aleatoriamente, dão acesso à exposição, à imagem das duas portas na Odisseia ou na Eneida – a das ilusões ou a dos sonhos que se realizam, pelas quais Ulisses e Eneia devem passar para sair do Inferno.”
É verdade que se veem alguns genitais, mas nada ao nível de Mapplethorpe, o que mais impressiona são as formas que o amor pode tomar e a linha que o divide do desejo, tantas vezes confundidos, outras misturados, ou pior ainda negligenciados. Pelo caminho vimos vísceras flamengas, fantasias exuberantes, verdades escondidas, amor abstrato e umas pernas perdidas. No fundo são sempre expressões diferentes para algo que nos une, perspetivas delicadas dos desejos universais por vezes em tons subtis, outras mais explícitas, todas elas válidas.
Uma escolha do curador são as representações feitas por casais de artistas, numa das entradas está Helena Almeida e Artur Rosa, uma escolha óbvia para o curador que nos explicou que Helena Almeida foi o primeiro nome que pensou ao escolher os artistas portugueses para representar o amor. Lourdes Castro e Manuel Zimbro, Marina Abramovic e Ulay, Axel Pahlavi e Florence Obrecht, Gérard Garouste e Élisabeth Garouste são outros nomes que nos vão impressionando ao longo dos dois pisos.
“O amor, por vezes uma explosão de sentidos na qual o prazer feminino se liberta do interdito, de qualquer norma masculina ou da posição de musa lasciva e prazenteira, torna-se uma busca pelo Éden ou pelo Inferno.” (Éric Corne)
Mas nem só de arte plástica se expressa o amor, há ainda espaço para algumas cartas de amor, Cristina Ataíde deixou por lá umas alianças com conselhos às malcasadas e logo de seguida no canto um contraste: João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira na sua obra “O casamento” de 2017, uma relação conhecida no mundo das artes, dois artistas companheiros que representam o quão irreal o casamento pode ser. Ideia esta corroborada no trabalho seguinte com a obra de Sophie Calle, uma fotografia que tudo tem para ser verdade, não fosse o nome (e a intenção), “Le faux mariage”.


Desejo, paixão, ciúme, intimidade, expressão, mentira, violência e verdade. Esconderijos, sexo, desespero, casamentos e sonhos tornados realidade. São dois pisos com vislumbres de amor, do reflexo e batalha das nossas escolhas que dão asas às definições e formas que o amor pode tomar.
A inauguração é hoje dia 10 de outubro, às 19h com entrada livre.
