Pausa, de Claire de Santa Coloma está em exposição na Galeria 3+1, em Lisboa, desde 17 de novembro até 13 de janeiro de 2018.
A 3+1 tem o prazer de anunciar a nova exposição de Claire de Santa Coloma (Argentin 1983), recentemente galardoada com o Premio Novos Artistas Fundação EDP 2017. Nesta exposição, composta por trabalhos de esculturas em madeira e obras sobre papel, a artista procurou montar as peças de forma a criar lugares de ponderação, interrogando assim o modo de ver e nos relacionarmos com as obras, gerando uma dinâmica em que se passe mais tempo com um objecto, para lá da noção dos três segundos de tempo médio de observação de uma obra medida pelas instituições artísticas.
As esculturas, em diferentes tipos de madeira, prosseguem a pesquisa do meio e o jogo entre espacialidade e forma que Santa Coloma tem desenvolvido recorrendo a várias técnicas, resultando em superfícies múltiplas, abertas a interpretação e exame. Aqui, a fisicalidade das superfícies é posta em evidência pela qualidade ondulante das peças, revelando-se e estabelecendo paralelos com as obras de maior polimento.
Uma escultura-banco surge frente a uma obra pictórica montada na parede. A artista posiciona e guia deliberadamente o observador neste cenário formal, deixando implícito um modo de ver, talvez uma pose de descanso que permita ao olhar perder-se na peça horizontal, ou apreciar cada objecto e recordar experiências tidas em plataformas formais, como num museu.
Nestes momentos e perspectivas íntimas, sentados ou circundando os objectos, a artista tenta travar o tempo, enquanto explora a forma como a cultura contemporânea devora imagens e informação, apresentando uma arena e lugar de trégua afastado da voragem do consumo quotidiano e oferecendo, assim, breves momentos e contextos de pausa, pensamento e ruminação de tudo quanto é absorvido e produzido.
Sobre a artista:
Claire de Santa Coloma (1983), nasceu em Buenos Aires, Argentina e vive e trabalha em Lisboa.
Estudou escultura de talha directa nos Ateliers Beaux Arts de la ville de Paris. Simultaneamente, obteve o mestrado de investigação em Artes Plásticas na Universidade La Sorbonne, Paris. Entre 2007 e 2009 foi artista residente na Casa de Velázquez em Madrid. Entre 2009-2010 frequentou o programa de Estudos Independentes da MAUMAUS, em Lisboa, com o qual participou na 29a Bienal de São Paulo. Em 2010, participou na residência La Belle Alliance (Metropole), no Goethe Institute de Lisboa. Em 2017 é convidada para integrar o programa de Lisboa Capital de Cultura Ibero Americana com uma residência nos ateliers dos Coruchéus e um projeto a apresentar na galeria Quadrum.
No mesmo ano, vence Prémio Novos Artistas Fundação EDP (Lisboa 2017). Expõe regularmente desde 2008. Entre as suas exposições individuais destacam-se: Guía Prático para Fazer uma Escultura Básica de Madeira, na Galeria 3+1 Arte Contemporânea (Lisboa, 2014); A ordem complexa, na Galeria Progetti (Rio de Janeiro, 2012); A escassez nos salvará da catástrofe, na Galeria 3+1 Arte Contemporânea (Lisboa 2011) e A Experiência da Medida, no Carpe Diem Art & Research (Lisboa, 2010). Entre as suas exposições colectivas destacam-se: Prémio Novos Artistas Fundação EDP, no Maat (Lisboa 2017) ; Excusa Argumental, no Museo de Arte Contemporáneo Gaz Natural Fenosa (A Coruña); Bienal de Arte de Buenos Aires (Buenos Aires 2013); Geografía Portátil, no MUMU (Córdoba, Argentina, 2013).
Folha de Sala
Pausa, o título escolhido por Claire de Santa Coloma (Buenos Aires, 1983) para esta exposição, facilmente se pode interpretar como um desejo e uma necessidade após um período de grande visibilidade da sua obra no âmbito da exposição no MAAT do Prémio Novos Artistas da Fundação EDP e do qual aliás sairia vencedora. Mas à semelhança das suas criações que parecem não querer afirmar nada mais do que aquilo que vemos – esculturas em madeira, abstractas, de linhas límpidas e elegantes, sedosas e que apelam ao tacto – o título encerra mais do que parece num primeiro momento.
No Dicionário Online de Português (dicio.com.br) a palavra Pausa tem os seguintes significados:
“interrupção de um acto por algum tempo”
“vagar”
“sinal, com que na música se indicam as interrupções”
E finalmente: “intervalo das vigas de um madeiramento”
E subitamente o título que parecia simplesmente remeter para um estado de alma ou uma imperiosa necessidade física de parar e pensar, encerra e dá uma chave, entre outras possíveis, para compreender este conjunto de trabalhos, todos produzidos em 2017.
As esculturas em madeira revelam os intervalos e veios que a árvore continha dentro de si, são obras ou objectos que resultam dos actos de retirar, alisar, polir e não de adicionar ou sobrepor. E os desenhos de frottage radicalizam esse processo ao serem uma espécie de radiografia ou desenho da madeira, dão a ver o que a olho nu não conseguimos captar totalmente: os pequenos nódulos, modulações, curvas e contracurvas, linhas e espaços do interior da madeira.
Frottage, do francês frotter, que significa friccionar, esfregar, foi uma técnica desenvolvida pelo surrealista Max Ernst por volta de 1925 em que colocou um papel no chão de madeira do ateliê, passou, pressionou um lápis macio inclinado várias vezes até o papel capturar a textura do chão.
Mais uma vez Claire de Santa Coloma, agora também com o suporte de papel, aprofunda um duplo diálogo: com a história de arte e com a matéria que escolheu trabalhar, a madeira.
Matéria no sentido de material mas também no sentido de tema ou de temática, as duas dimensões são inseparáveis. Não estamos no terreno da interpretação ou da conotação mas da denotação.
Veja-se Banco para contemplação e é isso que temos exactamente: um retângulo pendurado na parede como uma pintura abstracta e em frente um banco onde a memória do corpo sentado terá deixado escavado duas lombas em negativo que são agora um convite confortável a sentarmo-nos. Ou ainda Escultura sobre tela um pedaço de madeira que remete para uma concha ou uma fonte colocado sobre uma tela de linho cru.
São obras que mais do que remeterem para objectos de uso quotidiano ou objectos de mobiliário, como se poderia esperar dado serem esculturas, criam paisagens. Paisagens interiores, não no sentido de subjectivas mas que vêm de dentro, do interior da matéria.
Isabel Carlos, 11.2017
Informações úteis:
Entrada Livre
Horário:
De terça a sexta das 14:00h às a20:00h
Sábado das 11:00h às 16:00h
Ou por marcação prévia
Morada:
Largo Hintze Ribeiro 2E-F, 1250 – 122 Lisboa
Transportes:
Metro: Baixa-Chiado (Saída Largo do Chiado)