João Ferro Martins, artista plástico português, encontra nas esculturas o seu escoar emocional, um ótimo exemplo ilustrativo das definições de arte associadas ao ready-made, onde objetos vulgares ganham um novo sentido e uma nova vida.
A arte contemporânea marca o seu tempo em vários estilos, sendo o deles o uso de objetos/materiais do nosso dia-a-dia que descontextualizados ajudam a passar uma mensagem do artista para o mundo. Não é a primeira vez que olhamos para uma caixa de plástico numa sala de uma galeria e ficamos na dúvida se é arte ou apenas uma caixa a uso dos funcionários, temos de procurar pelo identificador da obra e do artista para podermos confiar no julgamento do curador que decidiu que aquela caixa/garrafa/tapete/etc., é afinal arte que vale a pena ver e perceber.
Ferro Martins é um dos artistas que utiliza este tipo de objetos para passar uma mensagem sobre a sua vivência, sobre a sua experiência no mundo, e sobre o sentimento pelos objetos que é partilhado por tantos mais.
“Há uma vida que fervilha nos objetos que nos rodeiam”
À primeira vista são apenas coisas empilhadas umas nas outras, largadas à sua sorte, poder-se-à até dizer, lixo fora do contentor. E a realidade é que sim, as obras de Ferro Martins são objetos cuja utilidade já foi ultrapassada mas cujo apego não permite uma separação, o artista dá outra vida a estes objetos que acredita terem as suas histórias ainda para contar.
“O imaginário das estórias por revelar comanda a nossa atenção possibilitando as nossas próprias associações e referências e a construção das nossas próprias interpretações e enredos.”
Como nos explica no texto Objectofilia: “Quando nos surge um objecto do qual não é fácil vermo-nos livres por questões emocionais, e se esse objecto por alguma razão já não está apto para continuar a sua vida funcional, parte do nosso processo inconsciente de conservação revela-se na sua elevação acima do materialismo. Torná-lo objecto de consolo interior, atribuir-lhe um sentido metafísico, é uma forma de apaziguar o nosso ímpeto de colectores e assim conservar na proximidade o fruto do nosso desejo por todas essas coisas que acumulamos sem necessidade prática.”
“Não precisamos deles (objetos) para estar vivos, mas precisamos deles para ir vivendo.”
Uns mais descartáveis que outros, existem objetos que ficam connosco décadas, outros algumas horas ou até meros momentos, mas há algo que sempre os liga a quem os possuí, o facto de, de alguma forma, esse objeto nos definir: “nós definimos-nos através dos itens pelos quais escolhemos estar rodeados.”
Mais sobre o artista:
João Ferro Martins, (1979) Licenciou-se em Artes Plásticas na ESAD, Escola Superior de Arte e Design (Caldas da Rainha). Trabalha como artista visual, sonoro e performativo. Para além de várias exposições individuais teve presença em exposições colectivas como: (2013) Prémio EDP Novos Artistas Fundação EDP, Porto; Visões do Desterro, Caixa Cultural do Rio de Janeiro; (2012) I wish this was a song, Music in Contemporary Art, Nasjonalmuseet, Museet for samtidskunst, Oslo; (2008) 7 Artistas ao 10º Mês, F.C.Gulbenkian, Lisboa. Em palco co-criou e interpretou: O Declive e a Inclinação (Alexandre Pieroni Calado e JFM), (2011) Nocturno para sala silvestre (Gonçalo Alegria e JFM), Teatro do Vestido, Lisboa; Retrato Possível e Concerto Triangular (Andrea Brandão e JFM), Appleton Square, Lisboa. Entre 2013 e 2015 desenvolveu temas sonoros originais para 3 peças com encenação de Alexandre Pieroni Calado. Fez cenografia e figurinos para a peça O limpo e o sujo de Vera Mantero de 2016. É fundador, juntamente com Hugo Canoilas, do colectivo A kills B com o qual esteve presente em: Nam June Paik Art Center, Seul em 2008, exibiu o projecto A mata B na F.C.Gulbenkian, Lisboa em 2012 e actuou no Palais de Tokyo, Paris em 2013.
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