Objetos de companhia para um mundo aparentemente contínuo, exposição de Susana Gaudêncio, está patente na Galeria Carlos Carvalho, em Lisboa, desde 28 de janeiro até 18 de março de 2017.
“(…) na realidade, não é só aos homens que cada um de nós está ligado por um sistema de influências, é também aos objectos. Portanto, sou obrigado a utilizar uma nova definição, segundo a qual uma sociedade é um conjunto de pessoas e de objectos, ligados por um sistema de influências.”1
Sobre a estranheza do mundo contemporâneo, o filósofo Odo Marquard (1999) declara que “os inúmeros avanços científicos e técnicos existentes numa sociedade impõem um obstáculo acrescido aos indivíduos em adquirir e empregar a experiência num mundo onde o que é familiar e próximo rapidamente se torna estranho.”2 Esta estranheza pode ser fruto de um processo de aceleração da vida e do quotidiano, no qual convergem, por exemplo: uma determinação mais obscura das origens de certos problemas; uma divisão do poder mais volúvel; uma fronteira no acesso ao poder; adversários ocultos; alterações drásticas no ambiente à nossa volta – rural ou urbano, a rápida obsolescência dos objectos, os nossos incontáveis heterónimos sociais e em rede. Tudo colabora para sentirmos o mundo mais nebuloso e ambíguo, vítimas e habitantes de uma caixa de Pandora, numa variante revista e aumentada.
“Objectos de companhia para um mundo aparentemente continuo” habita esta estranheza e estará organizada numa lógica de conteúdos fragmentária ou em aberto. É um registo de caminhadas inacabado – entende-se aqui a caminhada, como método ancestral de viagem crítica, narrativo, que catalisa o conhecimento, o acto artístico e a ficção.
A exposição divide-se em vários capítulos que marcam diferentes momentos desse trabalho de campo realizado nos últimos meses, combinando diferentes pontos geográficos, literatura, artigos científicos, fábulas e outras estórias. Os seus elementos convergem para uma narrativa de imersão, em formato de instalação, que se oferece ao visitante de forma livre e inacabada.
Os objectos apresentados – restos, escombros, pedras, pó, desenhos, fotografias, animações-vídeo, livros, integram a relação entre o legado de conceitos como o impulso utópico, a condição tecno-humana, a extinção dos seres e dos objectos, a estranheza advinda da “grande aceleração” do impacto da actividade humana na camada geológica da terra, bem como a ideia de insularidade enquanto desejo de imaginação, autonomia, isolamento ou refúgio.
1 Friedman, Yona (1977), Utopias realizáveis, Lisboa: Sociocultur
2 Marquard , Odo (1999) Apologia de lo Contingente: Estudios Filosoficos, Valencia: Institucio Alfons el Magnanim
Informações úteis:
Horário:
Segunda a Sexta das 10h às 19h30 e Sábado das 12h às 19h30
Morada:
Rua Joly Braga Santos, Lote F – R/c , 1600-123 Lisboa
Transportes:
Metro Laranjeiras
Carris 202, 701, 726, 755, 764, 768