Desorient Express de Bela Silva, no Museu Oriente

Desorient Express de Bela Silva, em exposição no Museu do Oriente, em Lisboa, desde 7 de outubro até 31 de dezembro de 2016.

Numa iniciativa inédita no Museu do Oriente, a exposição Desorient Express coloca, em diálogo directo, obras de cerâmica contemporâneas e peças da colecção permanente Presença Portuguesa na Ásia, datadas dos séculos XVII a XIX. Da autoria da artista Bela Silva, estes trabalhos originais foram desenvolvidos especificamente para esta exposição; são reacções, contrapontos ou desafios face às peças da colecção, interpelando-as quer do ponto de vista formal e estético, quer no domínio do seu referente histórico ou simbólico.

Desoriente Express apresenta 10 peças em cerâmica, bem como desenhos preparatórios das mesmas, inseridos no espaço museológico da Presença Portuguesa na Ásia, junto às peças que os inspiraram. Assim se cruzam não apenas linhas temporais e linguagens artísticas como também diferentes leituras do Oriente. Sensoriais, dotadas de um sentido de humor quase picaresco e uma súbtil sensualidade, as peças de Bela Silva pretendem, nas palavras da curadora Catarina Pombo Nabais “provocar uma experiência de desorientação do pensamento”. Ao desafiar a narrativa instituída e aurática do Oriente no seio de um museu a ele dedicado, as peças de Bela Silva reconfiguram este território numa “vertigem de traços que ultrapassam o figurativo, que reenviam, em última analise, para um mundo que nunca veremos.”

Desorient Express é uma das inúmeras re-leituras possíveis das colecções do Museu do Oriente, cuja diversidade e dimensão – histórica bem como artística – suscitam novas e enriquecedoras abordagens, nos mais diversos campos criativos e académicos.

Desorient Express
“A desorientação é um componente do síndromo confusional, do síndromo demencial e de algumas formas de perturbação do humor” (in Portal de Codificação e dos GDH do Ministério da Saúde -http://portalcodgdh.min-saude.pt/index.php/Desorientacao)

A particularidade mais intensa da arte é a sua força de desorientar o pensamento. Por vezes, basta um minúsculo pormenor para todo um cânone ser revisitado e posto em causa a partir de uma nova perspetiva. Cada obra de arte reconfigura o próprio pensamento. Faz como que um reset de todas as categorias teóricas de classificação e dos princípios que organizam o juízo estético. A obra de arte é, assim, um monumento do pensamento. Mas, a obra de arte e ainda mais do que isso: e a criação de um novo mundo possível. E, enquanto criação de nova possibilidade, no seu ser um outro-mundo-possível, a arte incita, provoca e violenta o pensamento. Forçado a pensar de novo o mundo e forçado a pensar um novo mundo, o pensamento é obrigado a questionar-se, a perder o mapa dos caminhos já traçados. A obra de arte instaura assim, ao mesmo tempo, novas categorias de perceção estética e novas experiências do pensamento, que se vê sempre, a cada vez, perturbado, perdido e forçado a repensar-se. Por isso, a arte é uma viagem de desorientação do pensamento!

As peças de Bela Silva são um mundo em si. Extremamente sensoriais, elas provocam ressonâncias ao nível dos afetos. As cores e as formas deambulam por entre seres bizarros, barrocos, uns kitsch, outros grotescos, outros eróticos. Elas atingem o pensamento, destabilizam-no com o seu humor. A sua intensidade pertence à dimensão da abstração. A cada vez que encontramos um pé, uma cauda, ou algo que remete para uma planta, apercebemo-nos de uma vertigem de traços que ultrapassam o figurativo, que reenviam, em última analise, para um mundo que nunca veremos.

E por isso que, para lá da fusão entre Oriente e Ocidente que claramente se deixa ver no trabalho de Bela Silva – atravessado por ecos das suas viagens ao Japão, à China e à Índia – o que esta exposição pretende dar a ver é a extravagância das suas obras como campos de forças autónomos, sem coordenadas que lhes ditem um destino. Mostrar que o trabalho de Bela Silva se sustenta e destaca para lá do Norte, Sul, Este ou Oeste.

Colocar as peças de Bela Silva diretamente na exposição permanente do Museu do Oriente é, pois, provocar uma experiência de desorientação do pensamento. Se orientar e dirigir-se para o Oriente, esse “Oriente pomposo… Onde Deus talvez exista realmente e mandando tudo” de que falava Pessoa, se é ver nele a fonte de sentido do nosso estar-aqui, esta exposição pretende, pelo contrário, produzir no espectador um certo desnorte, convidá-lo a fazer a mítica viagem Paris-Istambul em todas as direções, sem bússola, sem carta e sem destino. Provocar uma desorientação ligeira. Apenas o suficiente para ver o Oriente reconfigurado pelo mundo original e único das peças de Bela Silva.

Catarina Pombo Nabais | curadora

Natural de Lisboa, a artista Bela Silva estudou nas escolas de belas artes do Porto, Lisboa e Norwich, bem como na Ar.Co e no Art Institute of Chicago. No seu percurso artístico contam-se várias exposições internacionais – a solo bem como colectivas -, a coordenação de workshops de cerâmica e ainda residências artísticas em Kohler [EUA] e na Fábrica Bordalo Pinheiro, Caldas da Rainha. Entre as suas obras de maior destaque contam-se peças de arte pública como os painéis de azulejo da estação de metro de Alvalade, em Lisboa, e para os jardins do centro cultral de Sakai [Japão].
É representada, em Portugal e internacionalmente pela galeria Alecrim 50, em Lisboa; Galerie du Passage – Pierre Passebon, em Paris e Galerie Saint Jacques, em Toulouse.


Informações úteis:

Fundação Museu do Oriente

 

Entrada: 

0-5 anos: Gratuito

6-12 anos: € 2,00

Adultos: € 6,00

Mais de 65 anos: € 3,50

Estudantes: € 2,50

Família (dois adultos com três menores de 18 anos): € 14,00

Sexta-feira das 18.00 às 22.00: Entrada gratuita

 

Horários:

Terça-feira a domingo das 10h00 às 18h00

Sexta-feira das 10h00 às 22h00 (entrada gratuita das 18h00 às 22h00)

Encerrado à Segunda-feira, 1 de Janeiro e 25 de Dezembro

 

Morada:

Avenida Brasília, Doca de Alcântara (Norte), 1350-352 Lisboa

 

Transportes:

Autocarros: 12 – 28 – 714 – 738 – 742

Eléctricos: 15E – 18E

Comboios

Linha de Cascais (Estação de Alcântara) *

Linha da Azambuja (Alcântara-Terra)

* Na estação de Alcântara existe uma passagem subterrânea para peões com saída junto ao Museu.

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