Félix Muala, Mónica de Miranda e Pauliana Valente Pimentel são os artistas em exposição para o prémio Novo Banco Photo de 2016. A exposição estará patente a partir de dia 18 de maio até dia 10 de outubro de 2016, no piso -1 do Museu Coleção Berardo em Lisboa.
Sobre o Novo Banco Photo
O agora Novo BancoPhoto, uma iniciativa em parceria com o Museu Colecção Berardo, foi lançado em 2004 com o objetivo de premiar criadores portugueses ou residentes em Portugal, que apresentassem trabalhos no âmbito fotográfico, num determinado período.
Esta iniciativa, desenvolve-se com a realização de uma exposição conjunta dos artistas previamente selecionados pelo júri de seleção e culmina com a atribuição do Prémio NOVO BANCO Photo ao artista vencedor, escolhido pelo júri de premiação.
O Novo Banco pretende assim desenvolver uma politica cultural ativa, designadamente através da parceria com o Museu Coleção Berardo para a edição do Novo Banco Photo, promovendo desta forma o intercâmbio cultural e integração dos artistas plásticos contemporâneos de língua portuguesa no panorama nacional.
A edição de 2016 contou com um prestigiado júri de seleção composto por especialistas de cada país representado. Foram eles: David Santos, curador e sub-diretor da Direção Geral do Património Cultural, Lisboa; Paula Nascimento, curadora, arquiteta e diretora da Beyond Entropy Africa, Luanda e Pompílio Hilário Gemuce, artista e professor da Escola de Artes Visuais de Maputo.
Para esta exposição foram selecionados Félix Mula, Moçambique; Mónica de Miranda, Angola e Portugal e Pauliana Valente Pimentel, Portugal. A seleção destes artistas representa só por si o prémio de um percurso já afirmado e confirmado com vários sucessos. Os posicionamentos dos três artistas sobre o fotográfico são diferenciados, no entanto aspetos temáticos dos trabalhos realizados especificamente para este prémio não deixam de se cruzar com sentidos diversos.
Em junho um júri internacional de premiação decidirá o vencedor desta edição.
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MÓNICA DE MIRANDA
«Quero olhar para a fotografia de uma outra perspetiva: como para o fotógrafo a imagem é uma experiência antes de ser produzida como matéria, também o impulso por detrás da criação de uma imagem é desconhecido para o espectador. Gostaria de colocar o espectador no interior do olhar do autor através da criação desta série de instalações fotográficas, que tentam criar uma relação espacial com o espectador e que cativam o observador com a narrativa da imagem. (…) Estes trabalhos fazem referência à dualidade das identidades da diáspora e olham para as apropriações de território, em tais espaços como o da casa colonial ou do aeroporto. O meu interesse em jardins botânicos baseia-se no facto de estes serem também apropriações, onde as plantas são transplantadas de um sítio para o outro e confinadas dentro de fronteiras. Neles, genealogias da paisagem estão associadas com colecionismo e inventariação, tal como em arquivos e álbuns de família, onde as práticas de inventariar identidades constroem a coleção do eu. Esta instalação torna-se num local de descoberta, trânsito e relocação, onde diferentes tempos e espaços são justapostos e entram em diálogo para construir futuros horizontes.» Mónica de Miranda
MÓNICA DE MIRANDA nasceu no Porto em 1976. Licenciada em artes visuais pela Camberwell College of Arts (Londres, 1998), mestre em artes e educação pelo Institute of Education (Londres, 2001), e doutora bolseira da Fundação para a Ciência e a Tecnologia em artes visuais pela Middlesex University (Londres, 2014). Atualmente desenvolve um projeto de investigação artística no Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa intitulado «Pós-Arquivo» (2015–2018) no âmbito do grupo de investigação «Dislocating Europe». Mónica de Miranda foi uma das fundadoras da rede «Triangle Network» (Lisboa, 2010) e do centro de investigação artística Hangar (Lisboa, 2015). Uma seleção de exposições recentes inclui «Island» na Bienal de Dakar, Senegal, 2016; «Hotel Globo» no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Lisboa, 2015; e «Arquipélago» na Galeria Carlos Carvalho, Lisboa, 2014.
FÉLIX MULA
«O processo é fortemente marcado pelo uso da fotografia, com a premissa de que o objeto não pode substituir por completo a experiência que faz surgir o trabalho artístico. Por isso, meticulosamente, imprime no seu trabalho uma atitude participativa através de histórias que explora a partir de uma linguagem vernacular, no sentido de inserir o debate nos espaços pré-estabelecidos. Num processo de contornos antropológicos, Félix Mula explora pequenas histórias do cidadão comum para, sem cair na armadilha de particularismos nacionalistas, reabrir, reanimar e explorar uma nova forma de relacionamento do indivíduo e da comunidade com um mundo cada vez mais complexo.» Rafael Bordalo Mouzinho
FÉLIX MULA nasceu em Maputo, em 1979. Aos treze anos de idade aprende a fotografar com o seu pai, fotógrafo de estúdio. Frequenta a Escola Nacional de Artes Visuais e o Centro de Documentação e Formação Fotográfica, em Maputo, antes de ingressar na Escola Superior de Artes da Ilha da Reunião. É artista plástico e também docente, desde 2012, no Instituto Superior de Artes e Cultura, em Maputo. O seu trabalho ocorre no cruzamento da fotografia, da instalação, e das experiências vividas. Participou em múltiplas exposições e residências artísticas em Moçambique e no estrangeiro.
PAULIANA VALENTE PIMENTEL
«Existe um mito no Mindelo, na ilha de São Vicente, que diz que quem se sentar numa determinada pedra, no bairro de Font Flip, se torna gay. Foi neste bairro que conheci a Steffy e sete dos seus amigos: Edinha, Gi, Elton, Sindji, Susy, Henio e Jason. Estes rapazes, com idades compreendidas entre os dezassete e os vinte e cinco anos, são transgénero, no sentido em que gostam de usar roupas femininas, maquilhagem, e de serem chamados por nomes de mulher. Deparando-me com esta realidade tão particular em Cabo Verde, e com o significado desta pedra, resolvi intitular este trabalho de Quel Pedra, que é o crioulo para «Aquela Pedra». (…) A ideia deste trabalho é confrontar o espectador com os seus preconceitos, desafiando as convenções e normas sobre a identidade do ser humano. A Simone de Beauvoir disse «Ninguém nasce mulher, torna-se mulher». Talvez este trabalho tenha como intuito o desvendar do que significa ser mulher nos dias de hoje.» Pauliana Valente Pimentel
PAULIANA VALENTE PIMENTEL nasceu em Lisboa em 1975. Como artista e fotógrafa freelancer, faz trabalhos de reportagem desde 1999 para diversos jornais e revistas portuguesas e estrangeiras, bem como exposições individuais e coletivas em Portugal e no estrangeiro. Em 2005, participou no curso de fotografia do Programa Gulbenkian Criatividade e Criacao Artística. Pertenceu ao coletivo [Kameraphoto] desde 2006 até à sua extinção em 2014. Em 2016 funda o novo coletivo «N’WE». Em 2009 foi publicado o livro «VOL I», pela editora Pierre von Kleist, e em 2011 «Caucase, Souvenirs de Voyage», pela Fundação Calouste Gulbenkian. Realizou também diversos filmes. Em 2015 recebeu o prémio para o melhor trabalho fotográfico do ano pela Sociedade Portuguesa de Autores.
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A escolha destes artistas foi da responsabilidade de um júri de seleção representativo do critério geográfico referido, composto por David Santos (Portugal), curador-geral da BF16 (Bienal de Fotografia – VF Xira); Paula Nascimento (Angola), arquiteta, curadora e diretora da Beyond Entropy Africa; e Pompílio Hilário Gemuce (Moçambique), artista; que analisaram o panorama expositivo da fotografia no período a que reporta o prémio.
Félix Mula foi nomeado pelo júri «pela sua exposição coletiva Processos, apresentada em 2014, em Maputo. O processo fotográfico de Félix Mula tem passado de uma maneira discreta no meio artístico moçambicano, pelo facto de tratar a fotografia como um meio para conceptualizar histórias que refletem a sua memória individual em relação à sua família, dentro de um espaço e tempo. As suas fotografias com quase uma ausência da figura humana escondem sempre algo, ao mesmo tempo que revelam as atitudes e a natureza do ser humano. Embora a fotografia tenha sido o meio primário no seu contacto artístico, a sua coerência criativa revela-se também nas suas instalações provocativas.»
Na opinião do júri, Mónica de Miranda «é uma artista cujo trabalho atravessa diversas fronteiras e esboça uma paisagem de identidades plurais, inspiradas pela própria experiência e vivência de uma cultura cada vez mais itinerante. Em Hotel Globo, exposição realizada em 2015, no MNAC – Museu do Chiado, a artista explora a apropriação de um símbolo da arquitetura colonial, o Hotel Globo em Luanda, através de novos modos de ocupação e de uso; levantando questões relacionadas com a memória e com o impacto dos espaços coloniais na vivência atual. Fragmentos da vivência atual revelam uma (nova) teia de relações socioculturais, assim como a (re) construção de identidades e culturas e de múltiplas possibilidades de ser.»
Pauliana Valente Pimentel foi nomeada pelo júri «pelo seu projeto expositivo The Behaviour of Being, patente na Galeria das Salgadeiras, em 2016, que apresenta um núcleo de imagens de grande sensibilidade narrativa, baseadas numa forte consistência estético-formal. Esta exposição vem confirmar o caminho de maturidade desta artista que, nos últimos anos, tem revelado uma obra de subtil narratividade, marcada não só pela ambiguidade da significação, como por uma particular e profunda atenção à figura humana no seu envolvimento paisagístico e social.»
Pedro Lapa, presidente do Júri do prémio NOVO BANCO Photo e diretor artístico do Museu Coleção Berardo, acrescenta que «na edição deste ano o prémio passou a estar ainda mais focado no eixo Portugal/países lusófonos africanos, de modo a reforçar a troca e mútuo reconhecimento das práticas fotográficas neste quadro cultural que desejamos vivo e continuado.»
Informações Úteis:
Horário:
Segunda-feira a domingo
10-19h (última entrada: 18h30)
Morada:
Museu Coleção Berardo, Praça do Império
1449-003 Lisboa
Transportes:
Autocarros
729 – Carris (paragem Centro Cultural de Belém)
714, 727, 728, 751 – Carris (paragem Belém / Mosteiro dos Jerónimos)
Elétrico, 15E – Carris (paragem Centro Cultural de Belém)
Comboio
Linha de Cascais – CP (paragem Belém)
Barco
Transporte fluvial a partir de Trafaria ou Porto Brandão para Belém – Transtejo